domingo, 27 de novembro de 2011


De uma coisa estamos certos:
Quem tem vida interior desconhece desertos

Nildão  – em Gotas Colíricas

Deserto


Sentimentos reprimidos
Teimam em ainda aflorar
Florescem solitários
Como flor de cactos
Brotam no árido deserto
De sonhos rescindidos
Na compulsória do tempo
Sem água, sem afeto
Sem presença, sem luz
Adormecem esmaecidos
Acordam sobressaltados
Clamando por sobreviver
No mais interno espaço
Quando dados sem vida
Ressurgem certamente
Esperançosos num suspiro
E se julgam imortais
Posto que tão vivos
Crescem ferozmente
Tomam vulto
Esquecem que são
Rebentos de só um
E por instinto e instantes
Viram areia e se misturam
Aquietando sem resistir
No mistério de já ser

C.A. 20/03/11

sábado, 26 de novembro de 2011

Alféles



Fazenda Alegria


Encontrei no teu gosto o gosto perdido da infância
No teu cheiro o cheiro da garapa no tacho de cobre
Fechei os olhos e revi a fumaça subindo, a fervura
O aroma da cana, o barulho do engenho, a parelha de bois
Voltei muitos anos no seu sabor de rapadura
Voltei a saudade do passado, da infância
Voltei a minha avó, ao meu avô
Às horas boas desfrutadas em brincadeiras
Ao som do rego, da roda d’água,do cheiro de açúcar
Voltei as minhas tranças apertadas que insistiam em desmanchar
O doce carinho das histórias contadas,
Sempre a hora de dormir
Sempre com bichos falando
Histórias de caipora e sacis
Mundo encantado, vida feliz naquele tempo
Onde eu nem sabia direito o que era o mundo
Onde esperava a puxa com a cana mirim na mão
Quando sentava na casa do forno para saborear a vida
Com cheiro de biscoito assando e café torrando
Em horas ganhas e lambuzadas


C.A. 18/01/2009  (memória gustativa)  

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Restauração




Retratos
Revistos
Reportam
Rumos
Recortados
Remetem
Ritos
Rotos
Registros
Resguardados
Riachos
Represados
Ruem   
Recursos
Renascem
Retomam
Rastros
Reluzem
Resoluções
Revitalizo
Relógios
Registram:
Alma Restaurada!!

C.A. 29/10/11

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Novembro


Hoje, não me governo
o pensamento "avoando"
já me fez deixar fluir diferente
sem constrangimentos ou rugas
com as mudanças advindas
perfume trocado
casa preenchida
caminho diverso
alterações de prazos
divergem do planejado
me desconheço assim
como nuvem leve
ao sabor dos ventos
desejando ver Novembro
e quando Novembro vier...
abrirei olhos e coração
estarei atenta
a vida promete

C,A. 31/10/11