Madrugada

Presépio 2012 de minha mãe, Leonor 

A noite vagueia vagarosa

E o sono esperado nem chega

A Lua,  sorri no céu despreocupada

Pela mente, vagamente passam fatos

Do dia, do ontem, de um tempo ido

De outros renascimentos de Jesus

Relembrados para não esquecer

As lições de amor do seu viver

Pensa nas tantas manjedouras…

Onde anda a caixa de imagens do presépio?

Onde guardou os Reis Magos, carneiros e pastores?

O tempo, anda encurtado com tanto a fazer

Escorrem as horas entre alguns livros e canções

E o sono ainda não vem, continua distante

Assim como uma presença ausente

O todo e o nada se unem a madrugada

As horas se arrastam entre devaneios e escritos

E quando abre os olhos cansados

Em vez do canto dos galos

Ouve o barulho dos carros apressados

A  caminho, quem sabe, de volta pra casa

Ou iniciando um novo dia de labuta

Dormir? Pra que, se o dia acordou?

É quase Natal e mais uma vez precisa ser tempo

Para fazer a lapinha e abrigar a sagrada família

A vaca, o burro, os carneiros e pastores

Que esperarão a chegada do Menino iluminado

A meia noite do dia celebrado de oração

Mantendo as tradições de família

Repassando esse rito aos filhos aos netos  

E é quase Natal, época de renovação

De atos, fatos e solidariedade

Vamos à luta, por um mundo de Paz

C. A. 23/11/12 ( Madrugada – Mural de Natal  Mural de Natal 2012 Poesia )

Vai Mulher

Procura agora uma canção que diga

Do sentimento solto que é tanto

E vive de instantes e ausências

De sonhos e toda fantasia consentida

De essências puras e contentamentos

Nem medido tempo de desejar

Esse experimentar tão misturado

De gosto, de cheiro, de toque

Que agora se recompõe no vazio

Faz buscar uma doce melodia

Uma canção que possa anunciar

O mesmo tempo que lentamente

Já os afasta e os transforma

Toma esse todo sentimento

E aparta sem consentimento

Emudece as palavras perdidas

Afrouxa o abraço, silencia o beijo

Apaga o sorriso, recolhe a lagrima

Que cai lentamente no esquecimento

Segue então seu novo norte

Adormece o anseio nos braços do talvez

Encontra agora seu coração liberto

Visita os mares e contempla os luares

Busca o brilho das estrelas

Divisa o clarão de um novo dia

E acorda os seus sonhos sem limites

  

C.A. 12/01/12  ( Vai mulher…com mares e  luares,sem limites  )

Critica: O poema é sensível, leve, como uma balada de incentivo â realização existencial feminina, em busca do sonho, da realização do seu ser, para além dos limites da vida cotidiana.     

Emoção

Fim de tarde 

Por de sol

Mar bonito

Ainda Primavera

Tempo de nascer

Chegou outra Menina

Pele branquinha e rosada

Olhinhos bem azuis

Cabelinho loirinho

Era de admirar...

Outra filha recebemos

Com todo carinho

Com toda emoção

De toda luta

Ludmila está aqui

Mais um presente de Deus

Poder ter nos meus braços

e aconchegar no meu peito

Um bebê saudável e perfeito

19 de Novembro de 1984, Cecilia/Ciça

 (nasceu Ludmila, família completa : Pai mãe e duas filhotinhas - Marina e Ludmila.

 Sobrevivemos!!!

Voltar

Sempre bom voltar

Para o certo e o incerto

Cheio e vazio

Para a vidinha normal

Para a minha estação

Sintonizada no viver

Vivendo para trabalhar

Cogitando para o bem viver

Voltar ao mesmo espaço

Mais provisório agora

Mais cheio de vazios

Desocupado de desejo de ficar

Voltar…

Em busca do novo

Recomeço e sempre meio

Esquadrinhando o próximo ponto

Continuando na passagem

Perto do começo sem fim 

C.A. 17/11/12, (entre SP e SSA)

Constatação

Nem toda poesia, verso

Crer regra é uma ilusão

Nem toda canção, rima

Rica forma é oração

Nem toda voz, homilia.

Calar fala ao coração
Nem toda palavra, vai
Emudecer é reflexão

Nem toda ave, voa

Avoa longe imaginação

Nem toda noite, clara

Tem dias de escuridão

Nem todo buraco, negro

Toda queda leva ao chão

Nem toda saudade, chora

Toda lágrima emoção

Nem todo amor, cego

O que ofusca é paixão

Nem tudo, constatação

C.A. 19/10/12

Princípio

Todo dia é tempo

Todo tempo urgência

Toda urgência calma

Toda calma cala

Tudo cala e a vida fala

Do agora, do aqui

Do principio sem fim

Do dom de viver

Do espaço de ser

Alma calma e liberta

Que faz festa

Que se importa

Abre moças portas

Ouve os sons do mundo

Renova , refaz , recria

E principia sem pensar…

A vida é infinda e linda.

C.A. 14/10/12 

Mais Drummond

Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.

Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê.
Quem sente não é quem é.

Atento ao que sou e vejo.
Torno-me eles e não eu.

 

Cada meu sonho ou desejo.
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem.
Assisto à minha passagem.
Diverso, móbil e só.
Não sei sentir-me onde estou

.
Por isso, alheio, vou lendo.
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo.
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li.
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?
Deus sabe, porque o escreveu.

(Fernando Pessoa)

Uma Canção

Senso e devaneio

( Nina e Ciça )

Minha paixão

mistura alma e coração

Senso e devaneio

Sentimento e lucidez

Estrada e caminho

Revira o guardado

Desnuda o sentido

Esbarra num não

Acolhe e expulsa

Pulsa e pulsa

Faz viva a minha vida

Faz morta a razão

Circunda o nada

Acolhe e expulsa

Pulsa e pulsa

E caminha lenta

Lentamente no talvez

C.A. 20/04/2008 

Cantiga para Marina

Era começo de dia

Sol morno de Agosto

Chegou Marina, nossa Menina

Tão querida e esperada

Num tempo longo de esperar

De anúncios e de calmaria

Chegou Minha Menina

Com rosto redondo de Lua

Lua cheia, de todo brilho

Olhos vivos e pretinhos

Narizinho pra cima, queixo dobrado

Boquinha linda de boneca

Toda perfeitinha nossa menina

Que nasceu Morena e Marina

como na cantiga cantada 

Pra pintar com tintas de alegria

A minha, a sua, a nossa vida

Que Deus sempre a abençoe

Filhotinha

Ago 1983,Cecilia / Ciça

Cantigas para o Amar

Era começo de noite

De um dia partilhado
O Sol morno de Abril
Tinha já adormecido

A Lua faceira no céu
Bisbilhotava iluminado
Aquela rede de dois
Cúmplices e juntos
Como os seus pés
Vivendo um rito de amor
Tão querido e esperado
Num longo tempo de esperar
Certamente o Mar tava por perto
Da mais pura contemplação
Sob a tenda do Céu
A Lua, Rede, Pés…
Escolha de agora
Viver o Desejo maduro
Entoando cantigas
Atentando o sentir
Os pés, a rede, o rito

C.A. 05/07/12

Sorriso de Lua para um Menino

O entardecer trouxe um sorriso

De uma Lua Nova brotando

Imagem bonita de se ver

Causando saudade de pai

E esperança de um novo sorrir

Com a casa preenchida de filhos

Aguardando a chegada de um neto

Que certamente venerará a Lua

Seguindo a tradição dos enamorados

Pela vida, por encantos, pelas noites de luar

O amadurecer trouxe uma sabedoria

De uma nova fase brotando

Causando um amor roxo diferente

E a alegria de um novo rebento

Com a casa cheia de alfazema

Aguardando a chegada de um Menino

Que certamente será muito amado

Seguindo a tradição das doces avós

Pelos afagos, pelos dengos, pelos abraços

C.A.  03/07/11 ( Para Cauê , um escrito de Vovó Ciça esperando a lua que o trará)

Amores guardados

Guardo amores, cultivo saudades diferenciadas.

Lembranças lindas e puras

Dum tempo passado de encantamento

Permeadas com nuvens escuras de ressentimentos

Lembranças lindas e puras

Do tempo presente de encantamento

Permeado por um céu claro de esperanças.

Amores guardados preenchem o meu viver

Deixando em desalinho o que tenho (ou tive)

E o que desejo.

Amores , amores

Amores guardados 

C.A.18/11/2007

Inverno

Saí mais cedo para observar a agonia da tarde

A ultima tarde desse Outono já estava escura

Talvez percebesse que a noite traria o Inverno

Saí mais cedo para observar a extensão do mar

O céu cinzento escondia a beleza da Lua

Certamente antevia os novos movimentos 

Olhei vagamente para o mar de desconhecidos

A melancolia desse ocaso nem se fez notar

C.A. 19/06/12

Vinde o vinho

O vinho aquece a alma

Acalma o coração

Embota os sentidos

Faz leve a história

Ilumina sentimentos

Revigora a essência

Provoca o riso

Explica o olhar

Adentra os poros alargados

Pelo torpor, pela insensatez

Embala sonhos em noites insones

Desnuda o mais intenso em nós

Busca desejos e fantasias

Acolhe emoções escancaradas

Em goles, em cálices, em gotas

Que escorrem pelo canto das bocas

Entre beijos serenos e loucos

Com gosto frutado e de tanino

Que só ao paladar mais fino

É dado o desejo apreciar

O vinho aquece a boca da noite

O vinho aquece a alma da moça

O vinho aquece o corpo do moço

O vinho vela o amor tonto e bebido

Que teimar em perdurar após o porre

O vinho, a vida, o ver

C.A. 13/07/2009

Insone

Mais uma noite insone

Nem o cansaço do dia

Aquieta a cabeça agitada

Muitas cenas acenam

Em flashes rápidos

Passagens vividas

São presenças claras

Penso em meu pai

Vem uma saudade intensa

Do seu jeito de vivenciar

Os reveses que estalam

Com sabor amargo

O momento pede calma

As certezas escapam

O controle vacila ao vento

Que adentra pela janela

Trazendo o barulho vindo

Da rua ainda acordada

E o saber que nada sei

Fica martelando a idéia

Do quão efêmero é viver

Quem dera pudesse mudar

O traçado da história

Quem dera pudesse evitar

A dor que consome a tantos…

Parece que logo vai chover

Quem sabe as nuvens passem

E volte a reinar dias claros.

C.A. 16/11/11

Guardando rebaños

J. D/2011. Por do sol Turo de l'home. Catalunya-Es 

Escribir, escribir

Es todo lo que hay

Escribir, escribir

Es sólo lo que hay.

Contar y vivir

Luego revivir a través de las palabras 

Reescribir finales

Escudriñar sentimientos

Ser el “guardador de rebaños” de toda humana inexplicable

Por que “pensar es no comprender” es “estar enfermo de los ojos”

“La única inocencia es no pensar”.

Por ello robo palabras antes escuchadas

Frases hechas antes formuladas que traducen la mímica apagada

De esta cara que tan poco expresa lo que alberga el alma.

Evoco el regreso a las cosas sencillas

A las cosas llanas y claras

A los días de la semana en portugués

Al olor a agua clara.

Álvaro de Campos que me proteja

Que me lleve a su magnífica metafísica de no pensar en nada

Callar la boca y sosegar el alma

“Ser” como única meta a ser alcanzada.

Oigo pasos en la calle

La  gente que comenta la vida

Qué Dios me dé Su simplicidad

Un río, un árbol, una flor, el mar

Todo lo que existe sin explicar

Qué así es, Qué así sea y así siempre será.

(M. C. F. T. Barcelona, 12 de junio de 2012)

Efêmero

É imperioso ter fé

É fundamental acreditar

Quando tudo parece mais perfeito,

ajustado, equilibrado e irradiando luz

Com realizações e louros

Ele nos testa e faz refletir

Buscar razões e justiça para acontecimentos

Entender o quanto estamos longe da compreensão.

Se não confiarmos no futuro

Se não alcançarmos mais longe

E percebermos que essa vida é fugaz,

que existe vida além da vida

Cairemos no vazio do efêmero

E perderemos o ensejo pela existência.

Resta-nos confiar muito, orar muito.

Pedir força e entendimento.

Resta pedir-Lhe bênçãos e esperar por milagres

Força amigo, que os anjos lhe acalentem.

Sempre há esperança

Estamos com você. 

C.A. 11/11/07

Passagens

Traçados feitos formam a vida

Nem sempre em linhas retas

Às vezes, encruzilhadas

Outras, seguindo atalhos

Muitas curvas sevem de freio

Anunciam espera, espreitam o perigo

Pedem calma ao caminhar

Às vezes para olhar a paisagem

Mergulhar na beleza esquecida

Atento ao movimentar da história

Recuam pra dar passagem

Reiniciam do meio

Mudam rumos e desfazem rotas

Nem sempre vivemos o planejado

O melhor olhar todos os dias

Divergências e descobertas

Ajustam a alma nas passagens

A vida é agora, o tempo é aqui

Uns vão, outros ficam no caminho

Uns retomam, outros desistem

O saber medir silêncios e palavras

Assenta o percurso das passagens sinuosas

Com coragem pra seguir o inesperado

C.A. 16/04/12

*foto de Cris Britto

Lua de São Jorge

Olho a Lua bem cheia procurando
Enxergar as armas de Jorge
E pedir a sua proteção para os castelos
Onde vivem as minhas fantasias
Olho pra lua bem cheia e busco
O Dragão que encontrava a cada dia
Nas noites insones e sem contentamento
 Que trajando vestes de princesa
Assistia o meu mundo desabar
Olho pra Lua bem cheia espelhando
Um sentimento de urgência
E percebo que a ilusão já se foi
Que a história toda desmoronou
E que só em contos de fadas
Dragões existem pra assustar
E São Jorge salva princesas
Olho hoje a Lua e entendo
Que o vento que atiçou o fogo
Tornou-se por ora calmaria
Salve Jorge, protege a minha estrada
Salve Lua, segura o Dragão
Sem mais ilusões visto simbolicamente
As roupas e as armas de Jorge
Bebo a força fêmea da Lua
Desconstruo o encantamento
E acolho a desilusão do agora
Adormeço a princesa que mora em mim
E a deixo escondida até essa guerra passar

C.A. 23/04/07

 

* Escrito meu com foto de Carol Teles

Na correnteza do tempo

As águas desse Março

Chegaram mais amenas

Porem, cheias de força

Mudando o rumo da vida

Dando prumo a decisões

Fechando ciclos e invernos

Com promessas boas

Já tão esperadas

Já então planejadas

Para as primaveras

As águas desse Março

Diferentes e desejadas

Com promissões de paz

Lavam a alma e as arestas

Separam sentimentos

Levam as poucas mágoas

Na correnteza do tempo 

Descortinam os cursos

Dos rios estagnados

Perfazendo um novo leito

Para reluzir o verão que vai florir.

C.A. 11/03/12